domingo, 4 de novembro de 2012

Conversa com o Shrek brasileiro: Diego Luri

Fonte: Maiara Tissi (Blog Funny Girl)

Diego Luri se prepara para encarar seu primeiro protagonista em um grande espetáculo em Shrek, versão brasileira do musical que conquistou público e crítica na Broadway e chega ao Rio de Janeiro no mês que vem! Durante um intervalinho de seus ensaios, Diego respondeu algumas de nossas perguntas e contou sobre sua preparação musical, a produção de Shrek e como é viver o ogro mais mal humorado e adorado do mundo.

Conte um pouco sobre como iniciou sua carreira e o que o levou ao teatro musical.    

Eu faço teatro desde a pré-adolescência, mas sempre me envolvi com montagens amadoras e, posteriormente, na igreja, com peças evangelísticas. Profissionalmente, eu comecei depois que me formei em jornalismo, fazendo o curso da Casa das Artes de Laranjeiras. E aí coisas começaram a acontecer bem rápido. A paixão pelo teatro musical já era antiga, desde pequeno sempre fui aficionado por grandes corais (incentivado por Sister Act) e filmes musicais. Então fui incentivado avidamente por um grande amigo meu, o ator carioca Arthur Rozas, a correr atrás de testes e audições, apesar de muito inseguro resolvi tentar. Neste processo conheci o diretor Paulo Afonso de Lima, fundamental na minha carreira, me dando as primeiras oportunidades em teatro musical. Com ele, e sob direção musical da minha grande mestra Patrícia Evans, aprendi as bases estruturais de um espetáculo desse tipo. A Patrícia me “adotou” e começou a me preparar para as audições dos grandes musicais.

Qual foi a primeira coisa que você fez assim que soube que tinha conseguido o papel de Shrek?

Foi engraçado, porque inicialmente a notícia que tive da produção era de que eu tinha passado pro coro e para sub do Shrek. Isso pra mim já era uma honra gigantesca e já era uma grande porta se abrindo para o mercado de musicais, uma oportunidade de mostrar o meu trabalho. Alguns dias depois o diretor, Diego Ramiro, me telefonou e disse que houve mudanças e que eu não seria mais sub do Shrek. Eu estranhei, e então ele disse que eu não seria sub do Shrek porque eu seria o Shrek. Eu agradeci tanto (risos). Dei uma risada alta e ele disse: “Essa é a risada que eu quero pro Shrek. Já estou sentindo que realmente fiz a escolha certa” (risos). Ele me deu algumas primeiras instruções, mas confesso que a adrenalina me impediu de registrar muita coisa. Com as mãos trêmulas, liguei pra minha mãe, pra namorada e pra minha coach e amiga Patrícia Evans. Creio que foi um presentão de Deus pra mim, através da Kabuki.

A produção é inteiramente brasileira, mas a história é a mesma da Broadway. Você assistiu a vídeos do espetáculo para basear sua performance ou seguiu apenas as direções do Diego Ramiro?

De primeira, o que eu fiz foi pegar todo o material sobre Shrek disponível. Assisti a todos os filmes da série, vídeos do musical na Broadway e making offs do processo de produção do musical no West End de Londres. Trocando mensagens com o diretor, ele me sugeriu que focasse mais no desenho, para que pudéssemos criar algo novo, sem se prender muito ao que já tinha sido concebido nas produções internacionais. O Diego é um diretor brilhante. Ao mesmo tempo em que ele sabe o que quer para a cena, ele dá uma inteira liberdade de criação e, após ver o que ator propõe, ele filtra o que pode ser utilizado e o que realmente não funciona. E tudo isso com uma elegância ímpar. Até pra dar bronca ele é gentil. Tem sido um grande prazer trabalhar com ele.

Transportar um filme, ainda mais animação, para o teatro exige algumas mudanças. Foi preciso fazer muitas adaptações na história que conhecemos do cinema?

O texto tem muitas coisas do desenho. Quem conhece os filmes do Shrek vai identificar muitas falas dos personagens exatamente como eram no filme. O interessante é que a tradução do texto do musical foi feita pela Cristina Bério, a mesma que fez a tradução dos filmes para o português. Tem alguma diferenças do filme sim, claro, para ajudar a contar a história no palco. A versão brasileira segue o texto da Broadway, mas adaptando as piadas para a nossa cultura. Lá eles brincam muito com os contos de fadas americanos e com os musicais da Broadway. Aqui, nem todos os personagens dos contos de fadas americanos são conhecidos, assim como nem todos os musicais citados foram montados. O Rodrigo Sant´Anna, que interpreta o Burro, também tem contribuído muito para o humor da produção, ele é ótimo.

O que é o mais difícil e o mais divertido em interpretar Shrek nos palcos?

Acho que o mais difícil é encontrar a receita exata. O Shrek tem muitas vozes. A voz original do filme, a voz do Bussunda nas dublagens brasileiras e a voz do musical na Broadway, por exemplo. A mais conhecida aqui sem dúvidas é a que foi trazida pelo Bussunda. Inicialmente, tínhamos pensado em uma voz mais impostada e “gordinha” pro personagem. Mas, durante o processo, percebemos que uma voz mais natural, contrastada ao figurino do ogro, traria mais realismo à montagem e uma humanidade maior ao personagem. E aí foi bem difícil desconstruir. É difícil quando você concebe uma coisa ter que desmontar tudo. Mas a grande vantagem é que eu já tenho uma voz próxima à do que o Diego queria pro personagem. Tem sido um privilégio. O Shrek é um personagem maravilhoso. É mal humorado, tem aquela imagem ameaçadora, mas na verdade não passa de um crianção. Tem um coração gigantesco e é legal vivenciar com ele as suas descobertas ao longo da história.

Apesar de adorável, Shrek é bastante mal humorado. O que realmente te tira do sério?

Eu sou bastante auto-crítico e ansioso. Me tira do sério saber que algo não está tão perfeito quanto eu gostaria e entender que nada é da noite pro dia. Tudo leva tempo, é um processo. Tem sido um trabalho diário ao longo de anos. Acho que estou melhorando (risos). Bem, isso tudo é em relação a mim. Quanto aos outros, acho que o que me tira do sério é hipocrisia. Todo mundo erra, só os erros é que se diferenciam, e o dia em que as pessoas entenderem isso o mundo será mais feliz, porque vão parar de condenar a vida dos outros e focar em como podem melhorar a si mesmos. Aí sim. Lindo!

Se Shrek estivesse perdido na Broadway por uma noite, qual musical você acha que ele iria assistir?

(Risos) Não acho que seja o hobby do Shrek assistir a um musical. Mas, por ser um ogro, e gostar das coisas referentes aos ogros, como assustar e etc., acho que ele se divertiria com The Addams Family. Mas talvez se identificaria mais com a Elphaba de Wicked (risos).

Filmes de todos os tipos e gêneros têm cada dia mais recebido suas versões no teatro musical. Qual filme, mesmo que improvável, você gostaria de assistir nos palcos de um musical?

Caramba, tem tantos. Muitos mesmo. Mas vou me dar ao luxo de viajar um pouco. A Pele Que Habito (de Pedro Almodóvar) como musical iria ser, no mínimo, interessante. Seria um thriller musical e tanto. Migrando para outro universo, um musical dos Simpsons também seria bem legal!

O que o público poderá esperar da versão brasileira de “Shrek”?

Diversão garantida. Além do humor, tenho certeza que muita gente também vai se emocionar. O Shrek é durão, mas também tem seus momentos de fraqueza. O grande conflito dele é por ser um ogro e se apaixonar por uma princesa. E o espetáculo é lindo. Colorido, engraçado, contemporâneo, popular e com um elenco maravilhoso, com quem estou tendo a honra de contracenar. A Kabuki escolheu a dedo. Sou um sortudo e privilegiado por estar no meio dessa galera. Ah! E podem esperar também cenas de ilusionismo e um dragão gigante sobrevoando o palco.

Antes de terminar, precisamos saber: Qual sua música típica de karaokê ou aquela do chuveiro?

Eu sou mega brega (risos). Adoro “Sangrando”, do Gonzaguinha, “Como Nossos Pais”, da Elis, “Porto Solidão” do Jessé, “Sonho” de Ícaro do Biafra, “Como Eu Amei do Benito” [...]. E a lista vai longe. Pronto, falei (risos).

Para ler a entrevista na íntegra, em seu veículo original, clique aqui.

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